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domingo, 20 de maio de 2012

Quando Nos Emocionamos?


Muitas vezes as pessoas reagem de maneiras distintas ao mesmo evento, todavia há gatilhos que geram a mesma reação emocional em todo mundo. Como isto ocorre? Como nós adquirimos nosso conjunto próprio de gatilhos emocionais e ao mesmo tempo reagimos exatamente da mesma maneira que todo mundo quando determinados gatilhos são acionados?

Nós não nos emocionamos sobre todas as coisas e nem o tempo todo. As Emoções vem e vão. Sentimos uma emoção em um momento e podemos não sentir nenhuma emoção em outro. Algumas pessoas são muito mais emocionais que outras, mas mesmo a pessoa mais emocional tem momentos no quais não sente emoção alguma.

Já que cada minuto de nossa vida não é emocional, fica a pergunta: Quando nos emocionamos, qual é a razão? A maneira mais comum pela qual emoções ocorrem é quando sentimos que algo que afeta seriamente nosso bem-estar, pra melhor ou pior, está acontecendo ou prestes a acontecer. Este não é o único motivo, mas é o motivo central de nos emocionarmos. As emoções evoluíram para nos preparar para lidar rapidamente com os eventos mais vitais de nossas vidas.

Lembre-se de um momento quando você estava dirigindo seu carro e de repente um outro carro aparece, em alta velocidade, como se estivesse quase batendo em você. Sua mente consciente estava focalizada numa conversa interessante um amigo no banco do passageiro ou no rádio. Em um instante, antes que tivesse tempo de pensar, antes de se tornar consciente, a parte auto-consciente de sua mente pôde analisar o que está acontecendo, o perigo foi sentido e o medo começou.

Assim que a emoção começa, toma conta de nós em milésimos de segundo, direcionando oque fazemos, dizemos e pensamos. Sem escolha consciente, você automaticamente vira o volante para evitar a colisão e pisa no freio. Ao mesmo tempo uma expressão de medo passou pelo seu rosto - sobrancelhas levantadas e juntas, olhos bem abertos, lábios esticados em direção às orelhas. Seu coração acelera, você começa a suar, e o sangue corre para os músculos de suas pernas. Note que você teria feito esta expressão facial mesmo se não tivesse ninguém mais no carro, assim como seu coração teria acelerado mesmo se você não exercesse um esforço físico súbito exigindo aumento da circulação sanguínea. Estas reações ocorrem porque ao longo de nossa evolução tem sido útil para que os outros saibam quando percebemos o perigo, e tem sido igualmente útil para nos preparar para correr quando estamos com medo.

As emoções nos preparam para lidar com eventos importantes sem que, pra isso, tenhamos que pensar. Você não teria sobrevivido aquele quase acidente se parte de você não estivesse continuamente monitorando o mundo, procurando sinais de perigo. Nem teria sobrevivido se você tivesse tido que pensar conscientemente sobre o que fazer para lidar com o perigo eminente. As emoções fazem isso sem que saibamos que está acontecendo, e a maioria do tempo isso é bom, como no exemplo do quase acidente de carro. Ekman chama esse mecanismo de avaliação, no qual um evento importante está prestes a acontecer, auto-avaliadores.

As emoções produzem mudanças em partes de nosso cérebro que nos mobilizam para lidar com o que desencadeou a emoção, assim como mudanças em nossos sistema nervoso autônomo, que regula o batimento cardíaco, respiração, transpiração, e outras mudanças no corpo, nos preparando para diferentes ações. Emoções também enviam sinais, mudanças em nossa expressão facial, voz e postura. Nós não escolhemos essas mudanças, elas simplesmente acontecem.

As emoções são geradas por temas universais, independente das diferenças culturais. Foi o que Ekman e outros pesquisadores perceberam ao entrevistarem pessoas de diferentes culturas, os mesmos temas desencadeiam as mesmas emoções. Vamos usar a raiva como exemplo. Todo ser humano irá ter a experiência de ser contrariado quando alguém interfere com o que ele ou ela quer muito fazer ou está fazendo. E todos irão aprender que ameaçando ou atacando a fonte de interferência, irá, as vezes, conseguir removê-la. Toda essa explicação pressupõe que o que é construído na natureza humana pela herança genética é o desejo de atingir objetivos, a capacidade de ameaçar ou atacar, e a capacidade de aprender com o sucesso em remover obstáculos. Se admitirmos que o desejo, capacidade e habilidade existem, podemos esperar que as pessoas aprenderão que será útil tentar remover obstáculos por meio de ameaça ou ataque à fonte do obstáculo. Tal atividade requer um aumento da frequência cardíaca, com sangue correndo para as mãos na expectativa de seu uso para atacar a fonte do obstáculo, todos os componentes conhecidos como resposta à raiva.

Os principais temas são inatos, não aprendidos. Mas variações e elaborações dos temas são aprendidas. Nós nascemos preparados para reagir emocionalmente a eventos que são relevantes à nossa sobrevivência, isto desde a época em que eramos caçadores-coletores. Os temas para os quais nossos auto-avaliadores estão constantemente em alerta e vasculhando o ambiente, normalmente sem o nosso conhecimento consciente, foram selecionados durante o curso da evolução.

As variações aprendidas dos temas podem demorar mais tempo para serem analisadas pelos auto-avaliadores. Quanto mais afastada do tema, mais tempo ela pode demorar para acionar uma emoção. Isto acontece até o ponto em que avaliações reflexivas ocorrem. Neste tipo de avaliação nós temos consciência dos processos de avaliação que estão acontecendo.

Os nossos mecanismos automáticos de auto-avaliação ficam vasculhando o ambiente em busca de qualquer coisa que se assemelhe ao que está armazenado na nossa base de dados emocional de alerta. Parte do que está armazenado nesta base de dados tem origem genética e outra parte é decorrente de nossa experiência individual. Esta base de dados é aberta. Informações são adicionadas o tempo todo. Por toda nossa vida nós encontraremos novos eventos que podem ser interpretados pelos auto-avaliadores automáticos como similares a um determinado tema ou variação armazenada na base de dados.



Fonte: Ekman, P. (2003). Emotions revealed: recognizing faces and feelings to improve communication and emotional life. New York: Henry Holt and Company.

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